Resumo do Livro O Cortiço: Tudo sobre o Romance Brasileiro

Como uma obra muito influente do naturalismo do Brasil, o livro O Cortiço, do autor Aluísio de Azevedo, até hoje é estudado. O romance é indicado para vestibulares e utilizado para entender o contexto da época em que se passa e as relações sociais na sociedade brasileira durante o abolicionismo.

Justamente por isso, um resumo do livro O Cortiço é tão importante para estudantes e interessados em história e literatura. Absorver os principais pontos da obra é fundamental para sua compreensão e análise.

O romance foi adaptado para os cinemas em 1978 com direção de Francisco Ramalho Jr e atuação de grandes nomes como Betty Faria no papel de Rita Baiana.

Abaixo apresentamos mais sobre o autor e um resumo do livro para que conheça os personagens, suas tragédias e como a narrativa se dá.

Anúncios

Quem foi Aluísio de Azevedo, autor de O Cortiço

Nascido em São Luís no ano de 1857 (século XIX), Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, ou apenas Aluísio de Azevedo / Aluísio Azevedo, é um importante escritor e fundador do movimento naturalista nacional na literatura.

Filho do vice-cônsul David Gonçalves de Azevedo e de Emília Amália Pinto de Magalhães, desde jovem, o garoto Aluísio mostrou possuir dons para o desenho e pintura.

Ele se mudou para o Rio de Janeiro em 1876 para estudar na Academia Imperial de Belas-Artes. Durante este período, ele atuou como caricaturista para diversos jornais cariocas como “O Fígaro” e “O Mequetrefe”.

Aluísio retorna para casa no ano de 1878, após a morte de seu pai. A fim de ajudar a família financeiramente, ele voltou a atenção para a escrita e publicou, logo em 1879, “Uma lágrima de mulher”, seu primeiro romance.

Durante o crescente movimento abolicionista brasileiro, ele produz a obra “O mulato”, publicada em 1881. Esta marca o início do movimento Naturalista aqui no Brasil, e foi marcante para a época em sua forma como trata a questão racial de uma forma que não havia sido feita antes.

Entre suas obras mais famosas estão ainda os livros “Casa de pensão”, de 1884, e “O cortiço”, de 1890, que são publicadas logo em seguida.

Abolicionista convicto, o autor Aluísio Azevedo e sua obra não são bem recebidos no interior, mas sua escrita o garante lugar na Corte. Assim sendo, ele retorna para o Rio de Janeiro e consegue viver como autor, onde passa a escrever romances, contos e peças de teatro.

Em vida, Aluísio fundou a 4.ª cadeira da Academia Brasileira de Letras e serviu, a partir de 1895, papel de diplomata, abandonando de vez a escrita. Ele morou em diversos países nessa função, como Espanha, Japão, Inglaterra e Itália.

Aluísio de Azevedo mudou-se em 1910 para Buenos Aires, na Argentina, onde trabalhou como cônsul. Ele faleceu no ano de 1913, ainda na capital argentina.

Resumo do livro O Cortiço

Começamos o resumo da obra “O Cortiço” falando sobre a trajetória de João Romão em sua eterna busca por enriquecimento e prestígio. Um português morador do bairro do Botafogo no Rio de Janeiro, João Romão é comerciante, dono de uma venda, uma pedreira e do cortiço do título.

Desde muito jovem, João trabalhou duramente com este objetivo de acumular capital pois entendia que só assim alcançaria prestígio na sociedade.

Ainda rapaz, conseguiu adquirir a loja, onde morou e trabalhou a fim de ganhar mais dinheiro. Nesse meio tempo ele passa a se relacionar com Bertoleza, escrava fugida que trabalha numa quitanda. Os dois se “amigam”, e João Romão forja uma carta de alforria para Bertoleza, fazendo-a acreditar que está livre.

A mulher passa a fazer todo tipo de serviço por seu companheiro, inclusive, trabalhando todos os dias sem folga, e este continua com suas ambições cada vez maiores.

A ambição de João Romão

Não demora para João Romão passar a adotar métodos questionáveis e até mesmo criminosos a fim de conseguir o que busca.

Ele trabalha em uma pedreira próxima e, durante a noite, passa a roubar materiais de obras que ficam expostos na madrugada para construir um punhado de casas em um terreno.

Logo, está fundado o cortiço de João Romão. Já com dois empreendimentos dando frutos, a venda e o cortiço, o terceiro vem rápido: a própria pedreira onde trabalhava. O português a adquire e, agora, tem em suas mãos o que precisa para se tornar rico.

Disputa com Miranda

Miranda é um outro português comerciante, igualmente figura importante na narrativa. Ele possui um conturbado casamento com Estela, de grande riqueza. Ele, além de rico graças à esposa, tem certo prestígio na alta sociedade.

Ele compra uma propriedade próxima aos negócios de João Romão. Não demora para um conflito se estabelecer com relação à vontade do aristocrático em adquirir parte das terras de João para ter um quintal maior.

O dono do cortiço nega o terreno e uma rivalidade surge entre os dois. Graças a Miranda e sua posição mais prestigiada, João Romão passa a trabalhar ainda mais arduamente para se tornar rico e conquistar privilégios e ranque social.

Porém, apesar de seus esforços, ele percebe que não basta possuir dinheiro. Na escada social os títulos são tão – ou mais – importantes que as cifras. Isso se dá após Miranda receber o título de barão, o que coloca mais distância ainda entre os dois.

A vida no cortiço

O cortiço de João Romão abriga uma diversidade de pessoas e o desenrolar de suas vidas, e evolui ao longo do caminho. Estas histórias paralelas se passam na medida que João busca riquezas e renome.

Um destes moradores é Jerônimo, também português, casado com Piedade (com quem tem uma filha), e atua como gerente na pedreira de João Romão. Ele é um homem trabalhador, correto e de caráter, admirado por todos. Apesar disso, não resiste ao seu desejo sexual e cai nos encantos de Rita Baiana.

Rita Baiana é uma envolvente e bela mulher que mora no cortiço com seu namorado, Capoeira Firmo. Ela passa a se relacionar com Jerônimo, que mata o namorado da amante e abandona a família para fugir com ela.

O final dos dois é trágico e cheio de degradação moral e física, e Piedade não consegue lidar bem com a degradação de sua visa e se torna alcoólatra.

Outra importante relação que se passa no cortiço é o de Pombinha e Leónie. A primeira é uma jovem moça filha de Jerônimo e Piedade, ansiosa pela primeira menstruação (que parece que nunca vai chegar) e a possibilidade de se casar. A segunda, uma prostituta que seduz a moça. Pombinha abandona o noivo e eventualmente acaba na prostituição.

“Avenida João Romão”, Rio de Janeiro

De forma contrastante com a vida de seus moradores, o cortiço apenas prospera, como se ele fosse o grande protagonista de toda a história e o único capaz de ter alguma ascensão.

Após perceber que não basta dinheiro para se posicionar bem na sociedade, João Romão passa a pôr em prática um plano para aristocratizar o cortiço.

O lugar é repaginado e recebe reformas e melhorias. Moradores como Piedade, cuja vida desmorona após o abandono do marido, são expulsos do lugar.

Alguns passam a viver no Cabeça-de-Gato, outra habitação semelhante ao cortiço de antigamente, onde os considerados como escória são encontrados.

O cortiço passa a ser a Avenida São Romão, também conhecida como Avenida João Romão.

O trágico fim do romance

Com tamanha prosperidade na venda, no cortiço e na pedreira de João Romão, Miranda volta sua atenção para o antigo rival. Os dois encontram meio-termo e uma oportunidade única se mostra para o ambicioso comerciante João.

Ele pede a mão de Zulmira, filha de Miranda, em casamento. Essa jogada é a cartada final dele para garantir sua completa ascensão para a nata da sociedade carioca.

Um problema que pode impedir a jogada, na visão de João Romão, é sua companheira Bertoleza. A mulher, que por anos fez de tudo por João Romão, precisa ser descartada.

O português, incapaz de despachar Bertoleza por si só, denuncia para o antigo dono a escrava fugida.

A história se encerra com João Romão, acompanhado do filho do escravagista e alguns policiais, indo em busca da fugitiva em sua própria cozinha. Percebendo o que está acontecendo, e a covardia do antigo companheiro, Bertoleza se mata com a faca que tinha em mão enquanto escamava peixes.

Análise de O Cortiço de Aluísio Azevedo

Não dá para falar sobre a obra “O cortiço” sem citar o movimento naturalista.

Este movimento filosófico, artístico e literário parte da visualização do comportamento humano sob influência do realismo. Como animais que somos, para os naturalistas estamos totalmente sujeitos às influências do meio e nossos instintos, sendo impossível fugir disso.

Nas obras deste movimento, está constantemente presente o pensamento da natureza humana como física. Justamente por isso, elas tendem a ser extremamente fortes quanto ao comportamento sexual e constantemente apresentam situações onde a degradação se dá em decorrência da entrega aos vícios e instintos mais naturais.

Traição, ganância e desmoralização são temas muito presentes, como veremos na vida dos próprios personagens de “O cortiço”.

Além disso, o próprio local físico se presta a transmitir a ideia naturalista. Nessa obra, o aglomerado de casas é um personagem em si. Nele, o que de mais animalesco e instintivo no ser humano acontece, as pessoas se entregam aos desejos e o cortiço permanece frio.

Os personagens do romance são estereotipados e servem a propósitos caricatos. As personagens femininas da obra servem o propósito de representar a figura brasileira, no caso de Rita Baiana, que é sensual e provocante, e europeia, observada em Piedade, dependente, inocente e desesperançosa.

Miranda e Estela são a burguesia aristocrata, mascarada pela pompa, mas podre por trás dos panos.

O personagem João Romão representa a burguesia em ascensão no nascente capitalismo. Sua ambição sem barreiras coloca todos ao redor em perigo. Os moradores são apenas peças para o dono do cortiço, assim como seus empregados.

Ele é dono de tudo e de todos, seus trabalhadores entregam o suor para ele e, com seus salários, moram em casa alugadas por ele e compram comida na sua venda.

A desigualdade social é retratada na forma como vive, numa casa confortável, que contrasta com seus vizinhos, inquilinos do cortiço em casa simples.

Outras resenhas: