Resumo do Livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos: Análise Completa da Obra

“— Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.”

Graciliano Ramos é um autor sucinto. “Vidas Secas” é obra de realidade, dura e exígua. Mas de grandes proporções literárias, com conteúdo histórico, humano e cultural: permanente como crítica e documento do povo nordestino e brasileiro. Obra, portanto, atemporal, tendo presença marcada em vestibulares e bibliotecas.

A sentença brutal que introduz o resumo é um dos recortes de diálogo que sofregamente saem dos personagens. Retratado nos confins do sertão nordestino, o romance conta a trajetória de uma família de retirantes. Na obra, vemos a dura vida dos retirantes em sua caminhada e luta diária contra a fome e a seca.

Um retrato cruel e que extrapola os limites da ficção, afinal, pode ser muito bem trazido para a realidade de muitas pessoas que viviam no tempo do autor e que ainda hoje sofrem com as consequências do clima árido e da vida sofrida.

Antes de se tornar um romance, Vidas Secas era uma pequena narrativa sobre a morte da cadela Baleia, tendo o escritor se servido do tema para a busca de sua obra imortal. Aliás, muitas vezes o capítulo de Baleia é lido sem que as pessoas conheçam toda a grandiosidade dessa obra rápida, curta e chocante.

Assim sendo, convidamos você, caro leitor, a conhecer mais sobre Graciliano Ramos e, claro, a obra que aqui está sendo resumida, Vidas Secas.

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Breve biografia do autor Graciliano Ramos

Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em Alagoas no ano de 1892 numa família de classe média que se deslocava muito pelo Nordeste brasileiro. Trabalhou como jornalista no Rio de Janeiro, até se casar com Maria Augusta de Barros e fixar residência na cidade de Palmeira dos Índios, onde foi prefeito por dois anos.

Enviuvado em 1927 e com quatro filhos, publica Caetés em 1933. Já vivendo em Maceió, em 1934 publica São Bernardo. Em 1936 é preso por conspirar contra o estado novo de Getúlio Vargas, no poder desde a Revolução de 1930.

As memórias do cárcere inspirariam o romance Angústia e o texto Baleia, gênese de Vidas Secas, de 1938. Voltou ao Rio de Janeiro e se filiou ao partido comunista brasileiro (PCB). Casado novamente e viajando pela Europa, publica em 1945 Viagem, seguido a um livro autobiográfico: Infância.

Graciliano Ramos morre em 1953 de câncer no pulmão, aos 60 anos.

Romancista e Modernista

Graciliano Ramos é considerado um dos escritores do modernismo afeitos ao Regionalismo, pareando nomes como Rachel de Queiroz, Érico Veríssimo e José Lins do Rego.

Em relação à estética do Modernismo ou ao próprio movimento iniciado em São Paulo, sua obra não se aproxima tanto, mas, por sua época e influências, apresenta características como o uso de onomatopeias e aproximação com a linguagem verbal, buscando explorar o léxico e expressões do contexto retratados.

O Regionalismo moderno de Graciliano Ramos é realista, não romantizado. A partir de suas letras é possível compreender o drama de um povo ou classe, para além do saudosismo e heroísmo que era usualmente trabalhado em formas como o Indianismo, bastante romantizado em fase anterior.

A família, ao invés de lembrar uma instituição, lembra uma dissolução. A ausência de nomes próprios em “soldado amarelo” e “menino mais velho”, por exemplo, são marcas de experimentação temática.

O resumo do livro Vidas Secas é uma família em fuga

“Vidas Secas” começa em seca e acaba em seca. Inicia e termina sem destino ou esperança. A família retirante encena uma história sem protagonismo, inglória e cruel.

Composta pelo pai Fabiano, pela mãe sinhá Vitória, mulher de Fabiano, pelos filhos, anonimamente chamados de “menino mais novo” e “menino mais velho”, e pela cachorra Baleia, a família persegue pelo sertão nordestino um horizonte árido, faminto e maltrapilho.

Por curto período a família também contou com um mascote papagaio, que precisou ter sua vida abatida para saciar a fome que todos sacrificavam, logo no início do livro. A cachorra Baleia também sofre martírio, e a morte parece rondar a todos como uma força irrefreável, destino certo.

A falta de rumo é uma das maiores constâncias no pensamento e trajetória frustrada da família de Fabiano e sinhá Vitória.

Linguagem seca, história seca, gente seca

A obra de Graciliano Ramos é econômica no que diz respeito às divagações poéticas. Para as vidas secas de Graciliano, o tom sério e taciturno foi adequado.

Diferente de Guimarães Rosa, com prodígios poéticos num único parágrafo, criando mundos e camadas, Graciliano Ramos opta pela diversidade de substantivos e adjetivos sem variar a linha narrativa, com descrições assertivas, ritmadas e sem ambiguidade.

É usada a terceira pessoa para a voz narrativa, com discurso indireto livre – quando o autor reproduz a fala do personagem podendo carregar também suas mensagens implícitas, alternando em alguns momentos a voz de quem fala (outra característica moderna).

Os monólogos de Fabiano, dos meninos, de sinhá Vitória e até da cachorra estão lá, acontecendo com as coisas, que são tensões, fenômenos e movimentos da natureza, que tanto preocupam os retirantes, parecendo entidades prontas a acabar com a esperança de todos e fatalmente tornar suas vidas secas.

Com este recurso, os pobres personagens perdem seu estatuto de homem, mulher, criança, pessoa, para se confundirem com os bichos, plantas e o cenário que os engole.

Vidas secas, ingratas, sonhos simples, destino marcado

Os treze curtos capítulos da leitura são ricos em descrições.

Ainda que os personagens sejam condenados como os bichos esturricados e esquecidos como os casebres, a beleza das vidas apresentadas aparece ora pelos sonhos, ora pelas ambições até bitoladas, como a tão desejada cama de couro de Tomás da bolandeira, pela esposa de Fabiano, sinhá Vitória.

Ser humano e não ser gente

Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é uma obra de triste contexto e sonhos frustrados.

Poucos momentos felizes acontecem no livro. A maioria, na vida sonhada pelos personagens – sonhos de uma vida normal.

Fabiano quer se firmar como vaqueiro, numa fazenda sua. O menino mais moço e o menino mais velho querem ser como o pai. A cadela Baleia imagina um bem maior, com gordos preás para todos comerem fartamente.

Mas as coisas dão constantemente erradas, o que provoca momentos nos quais Fabiano se exaspera. Pequenos gestos conferem um pouco de beleza às vidas obscurecidas em meio a tanto sofrimento.

Início

Não se ouvia um berro de res perdido na caatinga”, lê-se logo ao primeiro capítulo, e esta sensação de desamparo prossegue pela história.

A análise do autor se mistura com os pensamentos dos personagens, geralmente, sobre o sofrimento, ressentimento e miséria, com certos delírios.

É nesse lugar desolado que se desenrola o início do romance, até que a família se assenta numa fazenda e conquista temporariamente um lar, servindo como caseiros e funcionários do dono da fazenda e patrão.

Fabiano e Cadeia

Nos capítulos seguintes o perfil de Fabiano é aberto com seu dia-a-dia sendo demonstrado, a relação com os filhos, o trabalho e os animais.

Constantemente em crise pelo pensamento de ser parte homem, parte bicho, passa momentos de arroubo e reação, provocado pelo soldado amarelo após perder no jogo, episódio que o faz ser preso e espancado.

Sinhá Vitória e os meninos

A mulher de Fabiano tem vida presa às obrigações domésticas, sendo sua companhia, ou estepe, a cadela Baleia. Sua singela ambição era trocar a cama de varas, pelo que “xingava mentalmente” o marido.

Refletindo pelas roupas maltrapilhas dos filhos, seus calçados que a deixavam com “pés de papagaio” no caminhar, os furos de Fabiano com jogo e botecagem, sinhá Vitória suportava esse destino ainda tentando ser grata pela superação da recente miséria, com notável superstição.

Em seguida, um resumo da vivência dos meninos, “mais novo” e “mais velho”.

O mais novo filho de Fabiano sonha explicitamente em ser um grande homem, domador de cavalos e vaqueiro, e toma um tombo hilário ao tentar montar um bode, numa rara cena onde até a cadela Baleia se divertiu.

O menino mais velho quer conhecer o mundo, sendo um pouco mais intelectual e avoado. Encasqueta em saber o significado da palavra “inferno”, e sai indagando, até perguntar à sua mãe se ela conhecia o inferno, e levar um sacode!

Inverno e Festa

No capítulo “Inverno”, a busca frustrada de Fabiano em contar uma história frente ao fogo, esbarrando na sua falta de desenvoltura, cena que alterna constrangimento com a tímida alegria da família estando unida.

E novamente, o medo presente, no caso, que o rio próximo viesse a subir com a chuva e inundasse a casa e o lugar inteiro.

A festa de Natal na cidade é mais um episódio de constrangimento para a família, onde a “gente do sertão” se sente intimidada em meio à sofisticação das pessoas.

Fabiano acaba fazendo mais fiasco bebendo e se deitando na frente no bar.

Morte de Baleia

Uma das partes mais belas e tristes de livro é a análise da morte pelo ponto de vista da pobre cadelinha.

Por ocasião de sua doença, Fabiano resolve sacrificá-la, não o conseguindo num só tiro.

Contas e reencontro de Fabiano com o Soldado Amarelo

Fabiano não se contenta no acerto feito com o patrão, e numa irritação, o vaqueiro quase põe tudo a perder. Em seguida, encontra o soldado no meio do sertão, passando a remoer a covardia sofrida no passado.

Mas, assim como se resignara ao patrão e dono da fazenda onde mora, prefere não se vingar do inimigo, respeitando o temor novamente.

Mundo coberto de penas e Fuga

Para os capítulos finais, a infeliz previsão da seca voltando, sinalizada pela migração das aves.

A família de Fabiano e sinhá Vitória resolve empreender nova fuga ao perceber que não poderiam saldar as dívidas com o patrão e dono do local, se embrenhando novamente pelo sertão, de volta à miséria esperançosa.

Conclusão

Assim, os personagens continuam a jornada no mesmo ponto que iniciaram, em busca.

O livro fecha um pungente resumo, ou o que se poderia chamar de saga de muitos representantes do povo nordestino, como ainda ocorre.

Demonstradas também as relações patrão-empregado naquela época, da miséria no sertão, na fazenda, em pontos de um Nordeste que continua fora do alcance de chuva e das autoridades.

A crítica social em Vidas Secas persiste enquanto obra, enquanto seca, enquanto crise econômica, enquanto Brasil.

Por estas razões, literárias e sociais, os vestibulares e escolas de ensino médio, ou mesmo o sistema de ensino como um todo, costumam trabalhar com este grande escritor.

Aconselhamos que não leia apenas uma resenha ou resumo da obra, mas leia livros inteiros, ou melhor, leia tudo o que puder de Graciliano Ramos!

Vale ressaltar que esse livro foi destacado entre os melhores livros brasileiros.

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