Clarice Lispector, brasileira de coração: conheça sua obra e vida

Clarice Lispector é, sem dúvidas, uma das grandes escritoras brasileiras do século XX. Com seu estilo próprio, intimista e inovador, Clarice Lispector trouxe uma narrativa fora dos padrões para a época, o que levou seu primeiro livro “Perto do coração selvagem” a ganhar o Prêmio Graça Aranha.

Nascida na Ucrânia em 1920 durante uma guerra civil antissemita na Rússia, a autora de diversos romances e contos foi naturalizada brasileira.

Fugindo da perseguição aos judeus russos, sua família se instalou em Maceió, no Nordeste. A futura escritora chega ao Brasil no começo de 1921, com dois meses de idade.

Assim que chegaram seus pais resolveram mudar o nome para que a menina tivesse uma proximidade maior com a cultura brasileira. Clarice era, até então, Haya Pinkhasovna Lispector.

Conheça mais sobre a vida e obra de Clarice Lispector, desde sua infância até o dia do seu último sopro de vida. Acompanhe!

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Biografia: quem foi Clarice Lispector?

Clarice Lispector foi reconhecida como uma das maiores escritoras do século XX pela crítica literária brasileira e estrangeira. Seus livros foram, inclusive, traduzidos para inglês e francês, ganhando notoriedade internacional.

Com uma linguagem poética e escrita única, bem diferente do que era feito no Brasil até então, Lispector conseguia escrever diferentes gêneros, como romance, conto e crônica, sempre com teor social, psicológico e filosófico.

Esse estilo intimista fez a escritora ser inserida na 3ª fase do movimento literário chamado Modernismo, que também ficou conhecido como “Geração de 45”.

Suas obras ganharam notoriedade, como “Laços de família”, mas também suas colunas jornalísticas.

A escritora atuou como jornalista nos jornais “A noite” e “Diário da noite”, assumindo colunas voltadas ao público feminino.

Além de escritora, Clarice também teve seu momento de engajamento político, quando atuou na linha de frente contra a Ditadura Militar ao lado de intelectuais e artistas.

Sobre sua vida pessoal, quase ninguém sabe dizer quem foi Clarice Lispector, uma vez que a autora, muito discreta, mas de personalidade impulsiva, evitava desnudar sua intimidade nas entrevistas concedidas.

Era um mistério para si mesma e para seus admiradores, mas quem tem um olhar mais analítico pode ter captado sua essência em seus escritos.

Isso porque Clarice deixava escapar suas particularidades em crônicas escritas para os jornais onde trabalhou, ajudando a compor — ainda que um pouco — seu autorretrato.

Infância e adolescência

Clarice Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1920, em Tchetchelnik, na Ucrânia. De origem judaica, ela era filha de Mania e Pinkouss Lispector, que fugiram da Guerra Civil da Rússia.

Com apenas dois meses de idade, Clarice e seus pais chegaram em Maceió e logo mudaram de nome. De Haia Pinkhasovna Lispector, que significa “clara” ou “vida”, a nova identidade da futura grande escritora passaria a ser Clarice.

Depois, a família mudou-se para o Recife e Clarice pôde aprender a ler e a escrever muito cedo. Isso ajudou a futura autora a escrever seus primeiros contos, bem como aprendeu inglês, francês, e o idioma do país de origem, o iídiche.

Fez o curso primário no grupo escolar João Barbalho e depois estudou no melhor colégio público da cidade, o Ginásio Pernambucano.

Mais tarde, ela e sua família se mudaram para a capital do Rio de Janeiro, na Barra da Tijuca, e ela entrou para o Colégio Sílvio Leite, onde terminou seu ginasial.

Antes dos 25 anos, a autora de “Felicidade clandestina” já tinha ingressado na Faculdade Nacional de Direito, trabalhado em escritório e ajudado a traduzir textos científicos para revistas.

Além disso, também se casou com seu colega de sala, Maury Gurgel Valente, e tiveram dois filhos: Pedro e Paulo.

Perto do coração selvagem, o aclamado primeiro livro

O primeiro romance de Lispector, “Perto do coração selvagem”, foi lançada em 1944 e trouxe uma visão mais profunda da adolescência.

Tanto a crítica quanto o público ficaram admirados e, ao mesmo tempo, espantados pelo estilo da escritora.

Isso porque “Perto do coração selvagem” possui uma história não linear, que mistura a prosa e a poesia de um jeito harmonioso, trazendo um novo olhar para a literatura brasileira.

Essa obra de Clarice Lispector foi tão bem recebida, que recebeu o Prêmio Graça Aranha no ano de publicação.

Esse romance está entre os melhores livros brasileiros da nossa lista, a qual inclui também Érico Veríssimo e Rachel de Queiroz. Não deixe de conferir!

Viagens e as novas publicações de Clarice Lispector

No mesmo ano de lançamento de “Perto do coração selvagem”, Clarice passou por experiências antes de lançar novas publicações.

Casada com Maury Gurgel Valente, ela precisou acompanhá-lo em suas viagens fora do país por conta de seu ofício como diplomata.

Durante suas viagens, a escritora atuou como assistente de enfermeira voluntária na equipe da Força Expedicionária Brasileira, enquanto a Europa estava em guerra.

Dois anos depois, na Suíça, nasce uma nova obra de Clarice Lispector: “O lustre”. Ainda na década de 40, Clarice lançou “A cidade sitiada” e deu à luz ao seu primeiro filho: Pedro.

Mas ela não parou de escrever. Entre os anos de 1952 e 1954, a escritora brasileira esteve em outros países, como os Estados Unidos, publicou “Alguns contos” e viu seu livro “Perto do coração…” ser traduzido para o francês. Além disso, nasceu o segundo filho do seu casamento, Paulo.

O ingresso no jornalismo

Antes mesmo de se casar, Clarice já havia ingressado no Curso Complementar do Colégio Andrews, por isso, começou a lecionar português e matemática.

Depois, ingressou na Faculdade Nacional de Direito e trabalhou no jornal “Comício”, assinando a coluna “Entre mulheres” com o pseudônimo de Tereza Quadros.

Além disso, foi redatora da “Agência Nacional” antes de se formar em Direito ao lado do marido.

Já em 1959, Clarice e Maury Gurgel se separaram e ela retornou ao Brasil, mais precisamente à cidade do Rio de Janeiro, com os dois filhos. Não demorou muito e ela conseguiu trabalhar no “Jornal Correio da Manhã” como Helen Palmer. Ela assumiu a coluna “Correio Feminino”.

A escritora deixou sua marca no jornalismo em alguns desses respectivos jornais abaixo:

  • Comício;
  • Agência Nacional;
  • A Noite;
  • Jornal do Brasil;
  • Última Hora;
  • entre outros já citados neste artigo.

Uma curiosidade a respeito de um dos seus trabalhos jornalísticos, é que Clarice Lispector foi ghost writer da atriz Ilka Soares, para a coluna “Nossa conversa”, do “Diário da Noite”.

Os primeiros livros infantis

Lispector não mergulhava apenas em histórias do cotidiano adulto, sendo bastante promissora também na literatura infantil.

Seu primeiro livro “O mistério do coelho pensante” levou o Prêmio Calunga, da Campanha Nacional da Criança, em 1967.

Ao todo, Clarice Lispector lançou mais quatro livros infantis, como “A mulher que matou os peixes” e “A vida íntima de Laura”.

Quais as características das obras de Clarice Lispector?

As obras de Clarice Lispector marcaram a última fase daquela que ficou conhecida como “Geração de 45”, que inclui como características principais:

  • Exploração do eu;
  • Subjetividade;
  • Momento interior priorizado;
  • Cotidiano;
  • Eventos que podem culminar em aprendizado;
  • entre outras.

Mas Clarice tinha suas próprias características, muito bem moldadas por seu olhar crítico e social. Suas obras exalavam epifanias, autoconhecimento, reflexões sobre o ser humano em situações corriqueiras e as relações familiares.

Além do mais, seu rompimento com a narrativa linear pode ser considerada sua principal característica, onde inclui personagens simples, com o objetivo de criticar a sociedade.

A hora da estrela, o livro da despedida

O último livro de Clarice Lispector, “A hora da estrela”, é bastante inovador, uma vez que a autora põe um pouco de si em dois personagens: Rodrigo (o narrador) e Macabéa.

Nesse romance literário narrado pelo fictício escritor Rodrigo S.M. (a própria autora), Macabéa é uma mulher órfã e solitária, que sai de Alagoas para trabalhar como datilógrafa no Rio de Janeiro.

A história vai revelando a angústia da autora perto da morte, enquanto narra a história de Macabéa e sua incessante busca pelo real sentido de sua vida.

Poemas de Clarice Lispector

Clarice usava de lirismo em seus poemas, muito embora, mais uma vez, ela fugisse do padrão: seus poemas não eram versos, portanto, nem rimavam.

Mas quem disse que ela se importava com isso?

Clarice escrevia com a alma, com altas doses de seus sentimentos, e precisava expor isso no papel.

Confira um desses poemas:

Mas há a vida

que é para ser

intensamente vivida, há o amor.

Que tem que ser vivido

até a última gota.

Sem nenhum medo.

Não mata.

Além de “Mas há a vida”, também foram escritas “Estrela perigosa” e “Precisão”.

As melhores frases de Clarice Lispector

Ao longo do tempo, Clarice ajudou a perpetuar suas frases mais famosas e reflexivas, tiradas de seus romances, contos e cartas.

Por isso, resolvemos fazer um compilado das melhores frases da escritora. Confira:

  • “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso, nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.” (em carta escrita para a irmã Tânia Lispector Kaufmann, em 1948)
  • “Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho. Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta, continuarei a escrever.” (trecho do narrador Rodrigo, no último livro lançado em vida)
  • “Depois que eu acabar de falar, você me desconhecerá ainda mais: é sempre assim que acontece quando a gente se revela, os outros começam a nos desconhecer.” (do romance “A maçã no escuro”)
  • “É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo.” (do romance “A paixão segundo G H)
  • “Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.” (do livro “Perto do coração…”)

Mais frases de Clarice sobre viver e liberdade

  • “E, antes de aprender a ser livre, tudo eu aguentava, só para não ser livre.”
  • “O tempo corre, o tempo é curto: preciso me apressar, mas ao mesmo tempo viver como se esta minha vida fosse eterna.”
  • “Há dias que vivo de raiva de viver. Porque a raiva me envivece toda: nunca me senti tão alerta.”
  • “Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.”
  • “Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo.”
  • “A gente tem o direito de deixar o barco correr. As coisas se arranjam, não é preciso empurrar com tanta força.”
  • “Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.”
  • “Ando de um lado para outro, dentro de mim. Estou bastante acostumada a estar só, mesmo junto dos outros.”
  • “Com todo perdão da palavra, eu sou um mistério para mim.”
  • “Passei a vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar.”
  • “Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre.”

As melhores e mais importantes obras de Clarice Lispector

Clarice era uma escritora exímia que produziu muito durante sua vida. Seja em cartas, escritos próprios, livros, contos, crônicas e artigos para os jornais que colaborou. Assim sendo, a autora possui uma vasta obra em que vale a pena recordar os mais emblemáticos:

  • Em 1944, escreveu “Perto do coração selvagem”, romance;
  • Em 1946, escreveu “O lustre”, romance;
  • Em 1949, escreveu “A cidade sitiada”, romance;
  • Em 1952, escreveu “Alguns contos”, contos;
  • Em 1960, escreveu “Laços de família”, contos;
  • Em 1961, escreveu “A maçã no escuro”, romance;
  • Em 1961, escreveu “A paixão segundo G H”, romance;
  • Em 1971, escreveu “Felicidade clandestina”, contos;
  • Em 1973, escreveu “Água viva”, romance;
  • Em 1973, escreveu “Imitação da rosa”, contos;
  • Em 1974, escreveu “A via crucis do corpo”, contos;
  • Em 1974, escreveu “A vida íntima de Laura”, infantil;
  • Em 1977, escreveu “A hora da estrela”, romance;
  • Em 1977, escreveu “Doze lendas brasileiras: como nasceram as estrelas?”, infantil;
  • Em 1978, foi publicado “Quase de verdade”, livro infantil;
  • Em 1978, foi publicado “A bela e a fera”, contos.

Além do Prêmio concedido pela Fundação Graça Aranha, Lispector também foi agraciada com o Golfinho de Ouro pelo romance “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”.

Também ganhou um prêmio pelo conjunto da obra da Fundação Cultural do Distrito Federal, em 1976, além do já mencionado “Carmen Dolores”.

A morte de Clarice Lispector

Foi na véspera do aniversário, em 9 de dezembro de 1977, que Lispector veio a falecer no Rio de Janeiro em decorrência de um câncer de ovário. O sepultamento foi realizado no Cemitério do Caju, mas suas obras permanecem vivas para serem apreciadas.

Inclusive, algumas de suas obras só foram publicadas depois do falecimento da escritora, que deixou grande acervo escrito.

Gostou da biografia de Clarice Lispector?

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