Resumo do livro O Mulato, de Aluísio Azevedo

Muita gente pensa que o livro que inaugurou o Movimento Naturalista no Brasil foi “O cortiço”, do mesmo autor de “O mulato”, Aluísio Azevedo. Mas, não é assim.

Essa confusão ocorre porque “O cortiço”, sem dúvida, é a obra mais célebre do autor e acabou ofuscando o seu livro anterior, mas isso diz mais do cortiço de seu Romão do que Raimundo, o mulato que teve a ousadia de se enamorar por uma moça branca no Maranhão do século XIX.

“O mulato” é um livro corajoso escrito por um rapaz de apenas 24 anos. Aluísio Azevedo teve a coragem de descrever a sociedade racista que fazia parte e toda a hipocrisia que a permeava. Conquistou fama e ódio por isso. Tanto que teve que sair do Maranhão e se mudar para o Rio de Janeiro após a publicação do livro.

Mas, o que faz da obra ser considerada a precursora do Naturalismo? O que é esse movimento e quais são os eventos chaves de “O mulato”?

Trataremos de todas essas questões nos próximos tópicos. Portanto, siga a leitura.

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Resumo do livro “O mulato”

O enredo de “O mulato” gira em torno de um amor impossível entre Ana Rosa e Raimundo.

A história se passa na província do Maranhão, na segunda metade do século XIX. A região até então era considerada uma das mais atrasadas do ponto de vista dos costumes e crenças. Temas como abolicionismo e democracia não estavam entre os assuntos mais populares.

Neste local, marcado fortemente pela cultura católica, nasceu Raimundo, filho bastardo de José, um fazendeiro que se engraça com a escrava Domingas.

Tal relacionamento não se mostra uma boa fortuna a pobre Domingas, pois a mulher de José, Quitéria, descobre o caso do marido e resolve se vingar da escrava, a torturando.

José, testemunhando a tortura de Domingas com o seu filho, manda o garoto para a casa do seu irmão Manuel.

Quis o destino que Raimundo fosse criado apenas pelo seu tio, pois seu pai acabou sendo assassinado após enviá-lo para a casa do parente. Desse modo, Manuel se encarregou de cuidar da criança e de sua educação.

Já crescido, encaminha o filho bastardo de José a Europa, para se formar em Direito na famosa Faculdade de Coimbra e, após as glórias do diploma, regressa para a fazenda de seu tio.

O retorno da Europa

Raimundo, por mais que se mostrasse homem privilegiado intelectualmente, nunca era tratado como um igual, pois sofria preconceito por ser mestiço. Outra característica deste personagem é que, por mais que tivesse origem escrava, ele possuía muitos traços físicos herdados do pai.

Se, na Europa, lugar dito como “mais avançado”, ele era obrigado a se ver vítima de preconceito, imagine numa das regiões mais atrasadas do Brasil onde era visto não só como mulato, mas como filho bastardo?

Terminando os estudos no velho continente, Raimundo volta ao Brasil, sua terra natal, onde deseja saber mais sobre as suas origens, ocasião em que conhece Ana Rosa – a prima Ana Rosa, pois era filha de seu tio Manuel.

Um amor proibido

Raimundo e Ana Rosa se apaixonam. Mas, é um amor proibido na sociedade de seu tempo, marcada pelo preconceito racial.

Além dessa questão, havia também o fato da família saber a origem de Raimundo, saber quem era o pai de Raimundo e que era filho de uma escrava.

A família jamais admitiria ter o seu “sangue sujo” por uma mistura dessas. Resistência esperada que se concretizou. A família do tio Manuel Pescada se mostrou fortemente contrária a essa união de Ana Rosa e Raimundo e logo criou obstáculos para esse enlace.

Racistas em ação

O primeiro entrave ocorre naturalmente. Em um contexto com forte preconceito racial, pretos e mulatos tendem a ficar isolados, excluídos do convívio social com os brancos, exclusão posta em prática ao tratá-los com frieza, insinuações e provocações.

Toda a família de Manuel que morava na “casa grande” vivia para lembrar o protagonista de sua origem.

Mas uma ação mais direta e cruel contra Raimundo em razão da união com sua prima Ana Rosa foi lançada pelo cônego Diogo, amigo da família.

Prometida a contragosto

Ana Rosa é prometida em casamento para um empregado de seu pai, mas, claro que isso não fazia o desejo dela, pois estava apaixonada pelo filho de uma escrava, o filho bastardo de seu tio José – Raimundo, o mulato.

O pai de Ana Rosa e família foram irredutíveis, exerceram pressão enorme para que ela aceitasse o pedido de casamento e fizeram de tudo para afastar Raimundo, o mulato, o filho bastardo, a herança maldita de José deixada a Manuel Pescada.

Ana Rosa se recusa com todas as forças a aceitar o casório e resolve fugir com Raimundo.

Fuga e assassinato

Ana Rosa e Raimundo fogem, no entanto, são surpreendidos no meio da fuga pelo cônego Diogo (que se mostra um grande vilão) junto a outros homens. A discussão rapidamente progride para um confronto aberto e Raimundo é assassinado por um dos homens em companhia do padre Diogo.

Final amargo

Ana Rosa estava grávida de Raimundo e acabou perdendo o bebê de forma espontânea ao vivenciar as fortes emoções daquele dia trágico.

Ela é obrigada a se casar com o homem que matou o amor de sua vida e tem com ele três filhos – um desfecho que, sem dúvida, vai totalmente contra o final feliz típico do Romantismo e foca na denúncia da hipocrisia social que caracteriza tão fortemente o Maranhão daqueles dias.

Personagens do livro “O mulato”

Raimundo, o mulato

Raimundo era filho bastardo de José Pedro da Silva, fazendeiro na província de Maranhão do Brasil do século XIX, e filho de Domingas. Apesar de ter mãe escrava, o mulato não apresentava traços físicos comuns em pretos, por isso tinha fisionomia de branco e até olhos azuis.

Entretanto, apesar dessa aparência mais favorável ao contexto de sua época, isso não o livrou de ser discriminado em razão da cor de sua pele e pelo fato de ser um bastardo.

Criado na casa de seu tio Manuel Pescada, ele se formou em direito na Europa e voltou ao Brasil para conhecer mais de suas origens.

Ana Rosa

Filha de Manuel Pescada, irmão do pai de Raimundo. Ela se apaixona pelo protagonista da história e sofre pressão da família para se afastar dele e se casar com um funcionário de seu pai. Contudo, ela se nega e foge com o amado.

Raimundo e Ana Rosa

Casal protagonista da história que enlaça um romance proibido devido ao preconceito racial que caracterizava o Maranhão do Brasil Império.

Forçada a se casar a contragosto com um homem escolhido pela família, que não deseja ter o seu “sangue sujo” por um mestiço, Ana Rosa decide fugir com Raimundo.

José Pedro da Silva

Pai de Raimundo, fazendeiro que engravidou sua escrava Domingos. Para livrar o filho da vingança perpetrada pela mulher ao descobrir o caso com a escrava, o manda para a casa de Manuel Pescada, seu irmão.

É assassinado após libertar o filho.

Manuel Pescada

Irmão de José, encarregado de cuidar de Raimundo. Com a morte do irmão, se responsabiliza pela sua criação e estudos.

Ele o manda à Europa para se formar em Direito, mas assume papel de oposição quando Raimundo retorna dos estudos e se apaixona por sua filha, Ana Rosa.

Cônego Diogo

Padre ligado à família de Manuel Pescada. Um racista que não se agrada nem um pouco com a união de Ana Rosa a um mestiço e usa de meios cruéis para separar o casal.

É de autoria do Cônego Diogo o plano para emboscar o casal em fuga e assassinar Raimundo.

Quitéria

Esposa de José. Religiosa fervorosa, racista e amante do cônego Diogo.

Sobre o autor, Aluísio Azevedo

Aluísio Azevedo (1857-1913) foi o escritor brasileiro precursor do Naturalismo no país. Isso se deu, justamente, com a publicação de seu segundo livro, “O mulato”.

Apesar de precursora do Naturalismo Brasileiro, a obra não foi a primeira escrita pelo autor, que começou a vida literária com “Uma lágrima de mulher”.

Nascido em São Luís do Maranhão, além de romancista, foi contista, cronista, diplomata, jornalista, caricaturista e pintor.

O que foi o Naturalismo?

O Naturalismo foi um movimento artístico que estava associado às correntes científicas do século XIX. As que estavam mais em evidência no final desse período eram o darwinismo social, positivismo e o evolucionismo.

Os naturalistas tentavam estudar o indivíduo para compreender sua herança genética e o ambiente que estava inserido para melhor entendê-lo. Eles defendiam que o meio em que o indivíduo era criado tinha papel fundamental na formação do próprio.

Esse foco no ser e em suas condições de vida trouxe à tona assuntos e personagens que até então eram marginalizados. As camadas mais empobrecidas e socialmente excluídas passaram a ganhar mais visibilidade.

A literatura no Naturalismo era usada como um instrumento de denúncia, jogando os holofotes aos dramas sociais sufocados e ignorados na imprensa e na produção literária de então, um verdadeiro contraste ao tipo de literatura que vigorava no Brasil e em boa parte do mundo neste período.

O movimento literário e artístico que precedeu o Naturalismo foi o Romantismo. O nome já deixa explícito a temática principal, principalmente quando se tratava de literatura. O foco eram os romances, casais, mocinhos, mocinhas, casamento, etc.

No Naturalismo até há espaço para romance – “O mulato” tem como protagonistas um casal de jovens enamorados que tentam sustentar um romance impossível -, mas ao contrário das histórias românticas clássicas, a maior preocupação da narrativa é apontar o meio repressor que impede Raimundo e Ana Rosa de permanecerem juntos e como isso os impacta.

Outra característica do movimento é que não há uma obrigatoriedade pelo final feliz. Como verá no resumo deste clássico de Aluísio de Azevedo, seu final é o completo oposto disso.

O Brasil na eclosão do Naturalismo

O Brasil, no período que o Naturalismo desembarcava no país por meio de “O mulato”, o segundo livro publicado por Aluísio Azevedo, passava por transformações profundas.

A de maior impacto, sem dúvida, era o fortalecimento dos ideais republicanos contra o status quo da monarquia. Concorrente a esse movimento era o Abolicionismo, a cada dia mais robusto e estridente.

O Abolicionismo tinha como principal bandeira a abolição da escravidão no Brasil. A Lei do Ventre Livre (1871) foi, sem dúvida, um passo importante para a conquista desse marco histórico – o mesmo quanto à Lei dos Sexagenários (1885).

Porém, durante a escrita de “O mulato”, aquelas leis representavam avanços, mas paliativos, que adiavam o objetivo principal: libertar todos os escravos e garantir que seus descendentes não fossem sujeitos à escravidão por serem pretos.

No próprio livro em questão, Aluísio Azevedo narra que a Lei do Ventre Livre, por exemplo, era burlada por proprietários de escravos. Apenas para fins de clareza, a referida lei decretava que filhos de escravos nascidos posteriormente à promulgação da lei não poderiam mais ser considerados propriedade do dono de seus pais, não poderiam ser considerados escravos. Pela lei, seriam livres.

No entanto, muitos fazendeiros, como narrado no livro, batizavam as crianças como que nascidas antes da lei entrar em vigor.

Ou seja, o Brasil estava em ebulição, passando por transformações e lutando por outras mais. O momento era de conflito entre o velho e o novo, e questões pungentes como a escravidão e o racismo estavam em pauta no debate público.

Além do mais, como já dito antes, a própria região em que se passa a história vivia num tempo mais retrógrado ainda. Assim sendo, se as leis contra a escravatura já eram burladas em grandes centros, você pode imaginar como seria nos confins do Brasil.

Pontos principais que caracterizam “O mulato” como uma obra naturalista

O primeiro aspecto é o protagonista do título, o mulato Raimundo, filho de mãe escrava e pai fazendeiro. Um tipo marginalizado que não costumava aparecer com destaque na produção literária que precedeu o Naturalismo. Geralmente eram mencionados de passagem, exercendo funções serviçais. Jamais eram dignos de receber uma análise mais aprofundada com um papel de protagonismo.

Outra característica que coloca a obra de Aluísio Azevedo como um romance Naturalista é a forte crítica social. Ao retratar a sociedade maranhense do final do século XIX, expõe o racismo impregnado na região a ditar práticas cruéis contra escravos e destilar preconceitos escancarados motivados apenas pela questão da cor da pele.

O romance de Raimundo e Ana Rosa é impossível porque o entorno, as convenções sociais que vigoravam, eram fortemente racistas e consideravam uma desonra ter o sangue da família misturada com sangue de um negro, mesmo sendo mestiço.

Tais convenções sociais contavam com uma forte religiosidade, usada para justificar as atrocidades praticadas contra os pretos, condição que proporciona situações absurdas e hipócritas. Por exemplo, mandar para o tronco o preto por um motivo fútil e, mais tarde, rezar na capela.

Aluísio Azevedo não se furta de descrever essas situações bizarras, algumas cenas com requintes de crueldade, expondo o atraso e crueldade de uma gente sustentada pelo ódio ao diferente, pela ignorância e egoísmo.

No Romantismo, a mensagem era clara: o amor sempre venceria. Isso significava que as histórias, em sua grande maioria, encerravam com um final feliz. O casal vivia junto por toda a eternidade.

Confira também:

O Mulato é um livro que nos mostra a realidade da sociedade brasileira do século XIX, onde a discriminação racial era ainda muito presente. A história de Raimundo, o protagonista, nos mostra como a vida de um mulato era difícil e como ele lutou para se libertar das amarras da escravidão. O livro nos ensina que, mesmo diante de todas as dificuldades, é possível vencer as barreiras impostas pela sociedade e alcançar a liberdade. É uma obra que nos ensina a lutar por nossos direitos e a não nos deixar abater diante das adversidades.