A lista de melhores livros de George Orwell é uma fonte sem fim de inspiração, conhecimentos históricos, crítica social e alimento para o pensamento. O autor inglês marcou a literatura com suas obras altamente políticas e críticas explícitas aos sistemas vigentes.
Muito mais do que um romancista, George Orwell escreveu sobre o que viu, em primeira mão, nas ruas da Europa e colônias inglesas. Sua experiência de vida está presente nas páginas, e dão ainda mais veracidade às experiências dos personagens e corpo às críticas tecidas nas histórias.
Sua obra marca o imaginário popular até hoje e está presente em cursos de literatura e jornalismo por todo o mundo. Em um conturbado período da história humana, o posicionamento ideológico firme do autor fez parte de sua identidade e da sua escrita.
Muitas de suas obras escancaram as hipocrisias das classes altas e trazem à tona o que de mais podre há na sociedade e no poder dominante. Por isso, se prepare para uma viagem densa, mas recompensadora, que não poupará ninguém de duros questionamentos.
Vamos nos aprofundar nos melhores livros de George Orwell?
1. 1984
Em um dos seus livros mais famosos, George Orwell cria um futuro distópico onde tece duras críticas ao Estado em suas formas totalitárias. “1984” é uma obra intrigante, que nos faz pensar e analisar o mundo ao nosso redor.
No momento em que começa a narrativa, o mundo tinha acabado de passar por uma guerra devastadora, que abalou as formações dos países no mundo todo. Nesse cenário, um governo autocrático e autoritário assume o poder e controla a vida de todas as pessoas por meio do “Grande Irmão” (Big Brother).
Num mundo tão descaracterizado e opressor, o personagem principal é Winston Smith, ou “número 6079”. Ele trabalha para o Partido Único, que está no poder, no Departamento de Documentação.
Sua função é falsificar documentos históricos para que estes favoreçam e corroborem com o status quo estabelecido pelo Partido e o Grande Irmão à frente do governo, numa prática que é bastante similar ao que foi feito na União Soviética.
A democracia em que ele vive é uma mentira, e o Grande Irmão, líder maior de estado, controla tudo. Não existe mais liberdade ou pensamento crítico nessa sociedade. Por isso Winston não se conforma com este trabalho e a forma como as coisas estão.
A situação piora ainda mais quando Winston conhece e se apaixona por Júlia, que trabalha no Departamento de Ficção.
Lançado em 1948, último livro do autor, “1984” é uma representação óbvia dos regimes autoritários europeus dos anos 30 e 40, que eventualmente culminaram na Segunda Guerra Mundial. Assim sendo, ele faz duras críticas ao autoritarismo e socialismo.
Porém, sua história é tão atual como poderia ser. A forma como retrata a influência da política na vida pessoal, a necessidade humana em ser livre e as facetas da democracia são atemporais.
Este livro já vendeu mais de 30 milhões de cópias ao redor do globo e tem forte influência na mentalidade ocidental e cultura pop. Filmes, séries, livros, histórias em quadrinhos, videogames e muitas outras formas de mídia bebem de sua fonte.
Mesmo o reality show Big Brother traz em seu nome uma referência ao Grande Irmão (Big Brother, no livro original em inglês), sendo o olho que tudo vê e controla.
Detalhe: Muitas pessoas vão dizer que George Orwell “previu” o futuro. É realmente interessante como um livro de 70 anos, consegue descrever a realidade na qual vivemos hoje.
2. A revolução dos bichos
“A revolução dos bichos” é, ao lado do anterior, um dos livros mais conhecidos e, claro, um dos melhores livros de George Orwell. E não à toa. Aqui o autor constrói mais uma narrativa com fortes críticas sociais e políticas.
A história se passa como uma fábula e acompanha animais de uma fazenda que possuem consciência e entendem sua posição naquele lugar. Eles estão insatisfeitos, uma vez que são explorados pelos donos, trabalham muito e não recebem como deveriam.
Tudo começa a mudar quando os bichos decidem fazer uma revolução. Um dos mais antigos porcos da fazenda os convence a se rebelarem e os bichos expulsam o fazendeiro da propriedade.
Quando este porco morre, a liderança do movimento passa a ser feita pelos outros porcos mais jovens. Porém, passado o tempo, as exigências dessa classe passam a ficar cada vez maiores. Não demora muito e os porcos estão agindo como os fazendeiros, e quando todos percebem estão até mesmo andando sobre duas patas e se aliando aos humanos.
A acidez do livro “A revolução dos bichos”, na forma como retrata as classes sociais e papéis na sociedade, é um grande destaque. Os cães protegem os porcos, as ovelhas os seguem sem questionar e os cavalos são esperançosos, mas passivos. Tudo isso em meio às relações de poder, tramas políticas e busca por dominância.
A crítica original de Orwell com essa obra era ao regime comunista instaurado na União Soviética. Para ele, a opressão dos czares tinha sido apenas substituída pelos burocratas governamentais, e o povo ainda continuava a sofrer.
Hoje, muitas décadas após o fim da URSS, a crítica presente ainda é forte e possui muitos paralelos com as relações contemporâneas de poder entre o governo, a burguesia, o povo e as instituições.
Sem dúvida, “A revolução dos bichos” é uma leitura valiosa e merece destaque entre os melhores livros de George Orwell.
3. Na pior em Paris e Londres
As origens desta história são experiências pessoais vividas por George Orwell, ou melhor, Eric Arthur Blair, nas ruas de Paris e Londres. O jovem aspirante a escritor submeteu-se à pobreza e miséria, sentiu na pele essa dor e depois transformou tudo em livro.
Nessa obra de George Orwell, conhecemos Eric Arthur, que se mudou para Paris em 1928, onde deu aulas de inglês. Eventualmente ele foi roubado, perdeu os alunos e começou a passar cada vez mais dificuldades.
Ainda na França, ele trabalhou em diversos empregos em estabelecimentos sujos das ruelas de Paris.
De volta à Inglaterra ele começou a buscar empregos e, agora já decidido a escrever sobre o que passava, propositalmente intensificou a experiência. Ele passou a viver com os mendigos de Londres, morando em albergues e lutando diariamente por comida e abrigo.
Assim se deu “Na pior em Paris e Londres”, primeiro livro do autor, um relato humorado e crítico sobre a vida na pobreza das classes mais marginalizadas da sociedade. Um dos objetivos de Eric era mostrar para a elite britânica, quem realmente lia livros, como era a realidade nas ruas.
Este livro foi recusado por diversas editoras e publicado apenas em 1933, já sob o pseudônimo de George Orwell. É uma obra biográfica digna do autor, com toda sua veia crítica e exposições ainda relevantes que se aplicam ao capitalismo, a dignidade do homem e injustiças sociais.
4. A planta de ferro
Em “A planta de ferro”, George Orwell usa o sistema capitalista, o socialista e a divisão de classes com plano de fundo para uma história mais humorística do que política. Pelo menos quando comparada às suas obras mais famosas.
O protagonista é Gordon Comstock, um detetive que não tem dinheiro e mal tem amigos, mas está com a mente fixa em um fervoroso combate à adoração ao dinheiro. Ele é apaixonado por Rosemary, porém a mulher não lhe dá bola graças à sua situação econômica e baixo padrão de vida.
Esse fascínio anticapitalismo de Gordon vem desde a sua infância pobre e logo se tornou uma obsessão e objetivo de vida. Isso o leva a um estado de paranoia constante, tomando atitudes ousadas e recusando empregos.
Este livro traz todo o estilo do escritor, com críticas explícitas, uma narração sóbria e pouco sentimental, que torna tudo ainda mais ácido.
Um filme foi produzido no ano de 1997 baseado na obra. Chamado “Keep the Aspidistra Flying” estrelou Richard E. Grant como Gordon Comstock e no papel de Rosemary teve Helena Bonham Carter.
5. O caminho para Wigan Pier
Dividido em duas partes, “O caminho para Wigan Pier” conta as viagens do autor pela região norte da Inglaterra, suas experiências de vida durante a pobreza em Paris e Londres, os dias passados junto a mineiros das minas de carvão e ponderações sobre o colonialismo inglês.
Aqui o autor discute os conflitos do sistema em que vivia, onde os luxos da sociedade britânica eram sustentados pela violenta colonização das Índias e outros países.
Em passagens muito ácidas, Orwell choca as realidades ao comparar os táxis da cidade e chás da tarde com frutas e doces à fome e miséria vivenciada por milhões de indianos.
O autor questiona a estrutura social, utilizando suas memórias em passagens autobiográficas. Além disso, também não poupa críticas à nova esquerda inglesa, nascendo em meio a condições econômicas favoráveis, deslocadas da realidade.
Este é um livro altamente político, com aspectos de crônica e literatura jornalística e não de romance..
6. Dias na Birmânia
“Dias na Birmânia” é o segundo livro de George Orwell, e seu primeiro romance. Ainda assim, o escritor usou suas próprias experiências para escrever essa obra. Mais especificamente o período em que trabalhou como policial na Birmânia, atual Mianmar.
Aqui ele critica o colonialismo inglês, as injustiças e desigualdades sociais e o abuso de poder. Isso é feito através do protagonista John Flory, funcionário de uma madeireira inglesa. O homem está longe de casa há 17 anos, e não mais se reconhece em suas origens.
John nutre pensamentos de igualdade, faz amizade com os negro e se posiciona em favor dos nativos. Tais pensamentos, muito progressistas para os imperialistas, o fazem pagar preços caros.
Lançado em 1934, este livro já carrega todas as características da escrita de George Orwell. Ele é bem mais realista que a fábula de “A revolução dos bichos” ou a distopia de “1984”, o que dá contornos mais dramáticos à história.
Sem dúvida, um excelente conteúdo de um dos escritores mais emblemáticos de todos os tempos.
Quem foi George Orwell?
George Orwell é o pseudônimo de Eric Arthur Blair, britânico nascido na Índia Britânica em 1903. Pouco depois de nascer, ele se mudou para a Inglaterra com a família, em 1904, onde viveu e estudou durante a infância.
Eric Arthur estudou francês brevemente e se formou nas disciplinas de arte e cultura clássica, inglês e história em um cursinho na Inglaterra. Ele não chegou a frequentar uma universidade pois sua família não possuía condições econômicas para pagar e suas notas não permitiam uma bolsa.
Ele trabalhou como policial na Birmânia, colônia inglesa na época, e depois retornou para a Inglaterra, já decidido a se tornar escritor. Mudou-se para Paris em 1928 e retornou à ilha britânica, período em que passou por muitas dificuldades financeiras.
Publicou seu primeiro livro em 1933, com relatos biográficos de sua experiência na França e de volta à Londres no final da década de 1920. Desde então publicou uma série de livros, entre romances, excertos autobiográficos e crônicas jornalísticas.
Serviu o exército republicano voluntariamente durante a guerra civil espanhola, antes da Segunda Guerra. Nessa ocasião se feriu no pescoço, o que danificou as cordas vocais e prejudicou sua fala daí em diante. No livro “Homenagem à Catalunha” ele narra as experiências vivenciadas.
Eric Arthur Blair morreu em 1950 na cidade de Londres, vítima de tuberculose aos 46 anos. Em 2021 sua obra entrou em domínio público, 70 anos depois da morte do autor, segundo a Convenção de Berna. Isso, sem dúvidas, dará uma nova vida à sua obra e permitirá que toda uma geração conheça este incrível autor.
Todas as suas obras sempre carregam forte carga crítica e política. Sob o pseudônimo de George Orwell, ficou famoso pelas suas posições ideológicas anti-capitalistas e a inimizade com o regime socialista.
George Orwell é considerado um dos mais importantes autores do século XX. Seus livros cunharam termos e ajudaram a moldar o pensamento ocidental pós-guerra. Com bases anarquistas, sempre se posicionou contra o autoritarismo e a favor da liberdade de pensamento.