Não há muitos autores que apresentam uma poética tão sarcástica, bem-humorada, refinada e inteligente quanto Markus Zusak.
Em “A menina que roubava livros” (cuja versão para o cinema foi dirigida por Brian Percival e adaptada por Michael Petroni) os leitores se emocionam com uma narrativa que, no entanto, não é piegas, experimentando revolta, tristeza, alegria e, ainda, certo conforto moral.
Markus Zusak pensava, há muito tempo, escrever sobre uma personagem que roubava livros, porém, suas ideias ainda não estavam amadurecidas.
Ao considerar a articulação deste anseio com o desejo de retratar um pouco do que sua nação vivenciara no período nazista, oferece à alma do público um dos melhores livros de nosso tempo.
Resumo de “A menina que roubava livros”, de Markus Zusak
Neste romance, Zusak destaca a relevância das palavras, precisamente, em um dos períodos mais dolorosos da História – uma família perseguida pelo Nazismo.
De fato, ao lado de Liesel Meminger, a nossa protagonista (interpretada no cinema pela atriz Sophie Nélisse), e de Rudy Steiner – seu companheiro nas aventuras – brilham as palavras e as características especiais do enredo, que os colocam sempre na tessitura, nas entrelinhas ou no centro da narrativa.
Como em outros livros do autor, as palavras são capazes de construir e destruir – algo que Liesel Meminger odeia e ama, causando preocupação em seus pais.
As cores se sobressaem nesta obra ambientada no período do nazismo, localizada na Alemanha hitlerista, narrada pela própria Morte, desde sua perspectiva e repleta de comentários geniais.
Como narradora, a Morte demonstra um modo bastante peculiar, deixando pegadas marcantes na interpretação das memórias de Liesel Meminger, registradas em seu diário. Neste, a menina que roubava livros faz as pazes com as palavras, gravando a essência de sua vida – que havia se perdido ao longo da Guerra.
Ficou interessado? Então, não deixe de acompanhar, até o final, o nosso resumo de “A menina que roubava livros”, a obra-prima do autor. Boa leitura!
Liesel Meminger
Neste livro, a narradora não tem interesse em conhecer o final do romance. Como o mistério suspenso não a intriga, ela se ocupa do trajeto narrativo e sua riqueza inerente – algo perceptível em sua plenitude quando, mais do que a resenha, lemos o livro completo.
Os elementos presentes em “A menina que roubava livros” transparecem mediante a atuação de Liesel Meminger e sua família, com tiradas irônicas (frequentemente, por metanarrativas), surpresas linguísticas, mensagens nas entrelinhas, prosa poética e recursos estilísticos.
Desse modo, o livro suscita questionamentos em relação às narrativas tradicionais, com seus mecanismos estratégicos geradores de suspense até a resolução do enigma. Muitos críticos consideram essa tática uma mera forma de ganhar mais dinheiro.
Esses métodos – presentes em muitos livros do gênero, como você pode confirmar mediante as resenhas disponíveis na internet – condicionam as histórias, desprezando, frequentemente, o valor da própria narração e as riquezas que, como “Em a menina que roubava livros”, podem ser extraídas.
No livro “A menina que roubava livros”, Zusak propõe a valorização dos recursos narrativos, valorizando o percurso e fazendo com que a linguagem seja o núcleo do enredo do livro.
Por meio da Morte, o autor, neste livro, tenta provar ao leitor e a si mesmo que a vida na Rua Himmel ou em qualquer lugar – mesmo durante um evento como a Segunda Guerra Mundial – vale a pena.
Lirismo poético e ironia em plena Alemanha nazista
Zusak confronta os fantasmas do passado, existentes na trajetória de seus familiares e de sua cidade durante a Segunda Guerra Mundial. O livro apresenta reflexões inusitadas, com ironias líricas que conquistaram o público por ser algo raro nos livros.
“A menina que roubava livros” impressiona desde suas primeiras linhas, quando os leitores percebem claramente qual é a identidade e o estilo da narradora do livro. Ainda assim, é possível afirmar (mesmo por aqueles que leram apenas uma resenha) que, durante as diversas etapas do livro, somos encantados e surpreendidos.
Mesmo quando pensamos que Zusak esgotou sua capacidade criativa, este best seller do gênero “young adult”, ficamos impressionados com seu vigor narrativo, como no trecho em que descreve uma fogueira alimentada com livros considerados subversivos.
As palavras se sucedem, abrindo espaço para outras ainda mais irônicas e poéticas, a fim de transmitir aos leitores o clima perturbador típico da Alemanha nazista, intensamente sentido, sobretudo, pelo pai de Liesel. Por esse motivo, muitos críticos comparam “A menina que roubava livros” com outro sucesso editorial: “O diário de Anne Frank”.
A história do encontro com a Morte
Entre os anos de 1939 e 1943, os caminhos da garotinha e da Morte se cruzam por três vezes. O ponto de vista de Liesel é o de uma sobrevivente, impressionando profundamente a ceifadora da vida.
A pseudo realidade deste encontro tamanha que a Morte se fascina pela garota, decidindo narrar a sua história e apropriando-se involuntariamente do seu diário. A narrativa escolhida pela Morte é somente uma entre as possíveis, selecionada no acervo das experiências que carrega consigo.
A Morte se esforça por compreender a importância da existência humana e o sentido de sua natureza. A história composta pelo autor mostra como a protagonista busca o significado íntimo de sua experiência em meio à destruição, à morte e à miséria.
Nessa cruzada por compreender o âmago da vida, a história da garota é determinada pelas palavras que a perseguem desde o momento em que sofrera a sua primeira perda – do irmão mais novo que vê morrer do seu lado, dentro de um trem que a transporta para vida nova e não desejada por ela.
Se, alguma vez, pensara que seria uma simples dona de casa – como suas ancestrais – o destino faz com que sua história seja alterada quando, por exemplo, ela se depara com a oportunidade de roubar um livro. Isso muda tudo.
É precisamente a companhia de cada história que confere à garota, envolta pela destruição que acompanha o conflito armado (que dobra o volume de trabalho da Morte), páginas que a fazem se sentir amparada e oferecem um certo sentido em sua vida.
Ela também tem coração
Todos, mesmo Rudy Steiner, encontrarão a narradora. Porém, apenas Liesel, a ladra do título, tem a honra de ter a sua história completamente narrada por ela. As páginas desta obra esclarecem, também, que nem todos poderiam sobreviver a uma guerra de tamanhas proporções, presenciando tudo desabar à sua volta.
Semelhantemente, não é qualquer pessoa que amadurece ao encontrar um sentido maior para a sua vida, exatamente nas páginas de algum diário ou livro. Contrariando todos os prognósticos, este fenômeno literário ambientado no terceiro Reich se afirma ao mostrar que até mesmo a cruel ceifadora tem um coração, transcendendo a atenção do coveiro.
A propósito, há muitas ocasiões nas quais a narradora expõe a sua ternura, o seu lirismo, os seus cuidados com as almas envenenadas e exaustas pela crueldade e pela dor da guerra.
Tão intensamente quanto se ouvíssemos um áudio, conhecemos, inclusive, sua revolta e indignação com os extremos de desumanidade cometidos pela juventude hitlerista e experimentados por personagens como Max Vanderburg e a própria Liesel.
Nessas ocasiões, os leitores percebem reflexos dessa ideologia bárbara tanto no sofrimento de Rosa Hubermann, mãe adotiva da protagonista, ou seu irmão falecido, quanto na chamada “fuga das nuvens” e nos contornos da natureza.
As histórias e a família de Liesel
Por todo o enredo da obra, o leitor desfruta das histórias que se sobrepõem – as dos livros que são roubados, dos que são presenteados por sua mãe e outros familiares. Isso inclui, por exemplo, os escritos dos quais os seres humanos devem se envergonhar, independentemente do que ocorre com o personagem, como o “Mein kampf”, de Adolph Hitler.
A história se passa, de certo modo, na casa de sua mãe e o cotidiano vivido na Alemanha nazista, enriquecendo a narrativa principal.
Aventuras, livros, palavras, desenhos, cores, amizades edificadas sobre a miséria, a dor, a luta desesperada pela sobrevivência, como a de Hans, seu pai adotivo ou o judeu Max (interpretado na versão cinematográfica por Ben Schnetzer).
De modo similar ao utilizado em outras obras (como “Fighting Ruben Wolfe” e “The Underdog”, livros de Markus Zusak), nosso autor compõe o panorama de uma época sombria, tecendo os seus contornos macabros – como a perseguição irrefreável a cada judeu (mesmo em sua casa) – permeando-os com sentimentos nobres e aventuras infantis.
Sucesso de vendas e crítica
Este livro representou um sucesso absoluto de vendas e, também, de crítica. Tanto que esse destaque não podia deixar de ser feito aqui. Ele ficou entre os mais vendidos por mais de 300 semanas!
Inicialmente, muitos leitores tinham a impressão de que se tratava de mais um relato de um casal, de uma família ou de pais que lutam para criar os filhos em meio à opressão nazista e as intempéries da natureza, como a neve.
No entanto, o trabalho de Zusak, em um cenário de triunfo do nazismo, foi traduzido para mais de quarenta idiomas, permanecendo por mais de sete anos entre os livros mais vendidos em todo o mundo – o que não foi diferente no Brasil.
O relato, com muitas cenas realistas, mostra como o autor australiano conseguiu se apropriar dos relatos de seus pais nos tempos da Segunda Guerra Mundial. Isso se deve porque a mãe do autor era alemã e vivenciou muitas histórias difíceis nos tempos da guerra.
Ao retratar o que ouviu em casa, Zusak mostrou com maestria os horrores da guerra e como a literatura pode ajudar a dar um vigor para a alma em tempos difíceis.
Com certeza é uma obra que vale a pena conhecer, tanto do ponto de vista literário quanto histórico.
Autor: Markus Zusak.