O chamado “conservadorismo” tem ganhado força nos últimos anos, com tomada de espaço na mídia e pensamento da população. Historicamente uma categoria que também se pode chamar doutrina ou ideologia, age politicamente com alcance global, assim como o chamado “socialismo”, ou “liberalismo”.
O conservadorismo, em tese, tem relação maior com a Ética que com a Ciência Econômica, mas, nas relações de força políticas, está mais atrelado aos liberais. Este bloco que nos últimos anos elegeu o penúltimo presidente da nação americana e o último presidente brasileiro possui defensores e legisladores com voz ativa e grande alcance.
Nomes como Roger Scruton e Alexis de Tocqueville são lembrados em muitas citações, listas e passagens, sendo no Brasil autores como Olavo de Carvalho e Luiz Felipe Pondé alguns nomes que costumam aparecer nas redes, como produtos que contêm argumentos de conservador.
Como hoje não há movimento forte sem as redes, é importante saber de onde vieram as ideias conservadoras, o que é para ser conservado e como, para saber se orientar.
É imprescindível, também, para quem quiser sair do raso, entender esta linha de raciocínio pelos seus teóricos e pesquisadores além dos textos dispersos, documentários e entrevistas soltas. A literatura é extensa e rica – e o objetivo, nobre.
Conservadorismo e ortodoxia é assunto sério, pois tem relação direta com o rumo que queremos dar à sociedade, uma opção radical a se fazer para se desenvolver pessoalmente e coletivamente.
A importância de conhecer o conservadorismo
Os valores do conservadorismo vêm sendo descritos desde a fundação das nações, se desenvolvendo com elas. Sem uma leitura adequada do processo histórico, facilmente é possível confundir as coisas.
É preciso compreender as escolas e bandeiras e, principalmente, os princípios, para ter embasamento nos debates que estão presentes no dia-a-dia e dizem respeito à nossa atuação como cidadãos e componentes da nação.
Confira os livros conservadores que colocamos na lista para ser parte do seu crescimento.
1. A democracia na América, de Alexis de Tocqueville
Numa jornada pela América que durou aproximadamente nove meses, Alexis de Tocqueville e Gustave de Beaumont observaram o modelo de democracia que vinha se desenrolando nos Estados Unidos. Era o ano de 1831.
Os Estados Unidos estavam usufruindo de uma constituição relativamente nova, criada por Federalistas como Thomas Jefferson, James Madison e George Washington.
Foram feitas entrevistas com colonos, burgueses, banqueiros, advogados e outros sujeitos proeminentes, e assim publicou-se esta grande análise da sociedade americana, que perdura como obra importante e basilar para conhecer a história e os fundamentos do conservadorismo.
A liberdade e o crescimento financeiro do povo americano, bem como sua forma de trabalhar e empreender, são observado a partir da educação, cultura e valores dos imigrantes da Inglaterra, observando que as famílias eram puritanas, ou seja, calcadas na moral religiosa.
A obra se estende e penetra em campos como o direito, a sociologia, a economia e sob a ótica que é ainda considerada para os conservadores, debate e defende formas e valores da sociedade como democracia e constituição.
Um livro que pertence aos clássicos do conservadorismo.
2. Witness, por Whittaker Chambers
Após a descoberta do caso de espionagem Hiss-Chambers, os Estados Unidos deram uma grande guinada conservadora. Alger Hiss foi um comunista infiltrado no alto escalão do Estado maior americano.
Em um excelente relato autobiográfico de Whittaker Chambers, o livro conta em detalhes a criação e desenvolvimento do espião, sendo um alerta sobre as intenções comunistas e um chamariz ao debate sobre que forças devem atuar onde, como e para quê.
Ronald Reagan foi um presidente expressivo que teve seu caminho pavimentado pela importância desses eventos.
Os dizeres de Chambers ajudaram a moldar a política de viés conservador a partir da sua data de publicação, em 1952. Assim sendo, este é um dos melhores livros sobre conservadorismo para quem quer se aprofundar sobre o tema.
3. Mugged: racial demagoguery from the seventies to Obama, de Ann Coulter
A autora tornou-se referência no quesito oposição à esquerda política, denunciando sua forma de tomada de espaços e construção de discursos, tendo em vista o poder absoluto.
Segundo Coulter, o protecionismo da esquerda aos “direitos civis” e associação a movimentos de “minorias” ou “oprimidos”, tem por função, além da manipulação das massas, demonizar os conservadores como “elitistas” ou mesmo “racistas”.
Obra importante para entender como pensam os conservadores.
4. The conservative mind, de Russel Kirk
As políticas de conservadorismo são demonstradas a partir da construção histórica, sendo primeiramente revisto algo da obra de Edmund Burke, sendo considerado o pai do pensamento conservador moderno.
Mais entendida como “visão de mundo” e “modo de viver” como “ideologia”, para Kirk, o conservadorismo é este conjunto de valores que, então, vão enxergar no seu tempo e espaço um modo de viver com conduta “adequada e digna”.
Indo fundo e separando certas nuances que geram cismas dentro da categoria, o autor também procura diferenciar o libertário do conservador tradicional.
5. As ideias têm consequências, de Richard Weaver
Em “As ideias têm consequências” Weaver observa o “nominalismo”, que seria responsável por dissolver as bases culturais que orientavam o propósito da história, provocando revoluções sociais onde princípios deveriam nortear a sociedade no sentido da ordem.
Tendo a cultura e a moralidade atacadas e desvirtuadas, ou subvertidas, a sociedade ocidental perde a possibilidade de transcendência, identidade e consciência nos valores universais.
Com essa visão, o autor promove uma reflexão sobre a sociedade atual e de que maneira nossas atitudes a estão moldando. A partir disso, ele entende que o homem não tem tomado decisões muito sábias e, por conta disso, é necessário uma cura imediata.
O título se transformou numa palavra clássica e muito difundida dentro da escola conservadora.
6. Livre para escolher: um depoimento pessoal, de Milton e Rose Friedman
Livro sobre teorias Liberais publicado em 1890. O conservadorismo, economicamente, é alinhado à filosofia liberal, e neste livro o casal Friedman dialoga com os valores que os pais fundadores da América utilizaram para fazer crescer a nação.
Mais livre mercado, proteção à propriedade privada, menos taxações e legislações que oprimam a classe empreendedora. Alívios fiscais e políticas de bem-estar social que não sejam paternalismos.
Este debate é antigo e continua atual, valendo a pena conferir o texto de um dos grandes nomes no assunto.
Para os melhores livros sobre economia, confira esta outra lista!
7. Sobre a liberdade, de John Stuart Mill
Outro dos livros para o conservador aprender os fundamentos da doutrina do livre mercado. Embora a lista de autores seja longa e a direita tenha produzido muitos pensadores novos de calibre, é importante citar as ideias que serviram como base.
Mill discute a liberdade em seus aspectos essenciais, sendo bastante polêmico quando, por exemplo, entende que os indivíduos devem ter garantidas certas liberdades que pareçam nocivas para outros, dentro de seu espaço privado.
Desde que não agredisse ao próximo, seria permissível que alguém nutrisse preconceitos e gostos duvidosos. A teoria ganha corpo e se expande na doutrina Libertária, que é o liberalismo em sua forma mais radical.
Mill também é polêmico ao criticar nosso modelo de democracia representativa, onde comumente líderes populistas tomam o poder com a reciclagem de promessas que, na prática, fortalecem o aparato estatal e mantêm as pessoas na política do “pão e circo”.
Um livro importante para indagar as raízes do autoritarismo e problemas inerentes ao Estado político.
8. Reflexões sobre a revolução na França, de Edmund Burke
Burke foi um filósofo do século XVIII componente do Parlamento Britânico. Para esta leitura, recomenda-se a edição da Vide Editorial, prefaciada por João Pereira Coutinho.
No livro, Burke observa as razões, o sentido e consequências de uma revolução, no caso, uma revolta popular.
A Revolução Francesa foi marcadamente um manifesto e tomada de poder pelo povo, através de associações de trabalhadores e ideário anarquista e socialista.
A tradição revolucionária que se formou a partir deste período sombrio e explosivo na memória pela revolução francesa perdura até hoje, tendo germinado diversos movimentos populares que ameaçam a ordem.
Mas o que é a ordem e o que ela deve fazer para proteger o cidadão de bem? Esta é uma pergunta que surge à leitura e que também deve ser feita hoje.
A questão atravessa muitos períodos da história e continua em busca de respostas. Burke ajuda a construir o viés conservador.
Um livro de fábula que conta a história de uma revolução social, super interessante, é “A revolução dos bichos”. Já leu? Confira nosso resumo.
9. Rerum Novarum, de Papa Leão XIII
Mais uma referência para o conservadorismo, a bula editada pelo Papa emitia um alerta para as sociedades democráticas do final do século XIX. Ainda que defendesse o direito dos trabalhadores de comporem sindicatos, alertava para os perigos dos socialistas e também do capitalismo sem limites.
A igreja, o estatuto do trabalho e o mundo dos negócios também entraram na pauta. O Papa lamenta a falta do princípio ético na condução dos negócios e desenvolvimento social, vendo um grande problema com a propagação da ideia do Estado laico, ou o enfraquecimento da religião cristã.
O materialismo, ou o amor pelas coisas, é sempre uma preocupação da igreja que aparece nos conselhos de Papas e pontífices. Ainda que sejam textos em estilo religioso, a substância filosófica é rica em erudição.
A distribuição de riquezas e intervenção do Estado é um dos tópicos “defendidos” na bula, que são vistos como questões mais delicadas, especialmente nos dias de hoje.
A doutrina social da igreja passou a se organizar a partir deste documento edital. São quatro partes que dividem o estudo: questão social e socialismo, questão social e a igreja, questão social e o estado, questão social e a ação conjunta de patrões e empregados.
O Rerum Novarum é um documento que carrega princípios que sempre deverão existir enquanto houver injustiça no planeta. Compreender a necessidade destes é um serviço pelo ser humano.
10. Ser conservador, de Michael Oakeshott
Mais um livro indispensável para a lista, produz o pensamento de que o conservador é alguém que se comporta diante da vida com a conduta que carrega os princípios, sendo então uma “disposição conservadora” que forma o caráter enquanto exerce.
Num belo texto, Oakeshott lembra das belezas e do trabalho empenhado em construir as instituições e estruturas que sustentam nossa sociedade. Costumes, heranças culturais e leis que custaram muitas vidas e esforços e que não podem ser vaporizadas por ideias excêntricas sem fundamento ou essência moral que as norteiem.
Como esta obra fala mais sobre comportamento, não há atrelamento à parte religiosa do conservadorismo. É um livro sobre ética e valores, que certamente o fará rever sua posição no planeta e postura em relação à família, negócios, conhecimento e felicidade.
11. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, de Olavo de Carvalho
Olavo de Carvalho é um sucesso em qualquer livraria. A não ser que a livraria boicote sua obra.
Como figura polêmica e sem papas na língua, o guru filosófico de uma grande quantidade de sujeitos pensantes na mídia e jornalismo nacional escreveu estas páginas recheadas do seu humor cáustico, com conteúdo atualizado sobre o conservadorismo moderno.
Mesmo sem título acadêmico, Olavo de Carvalho é muito citado e premiado pelo mundo afora, atraindo milhares de seguidores e tendo causado grande influência na mentalidade da massa que elegeu o último Presidente do Brasil. O escritor conta com prestígio até entre os políticos, com os quais discute também, sem nenhum medo.
Olavo ataca abertamente a mentalidade revolucionária, prevenindo contra seus vícios e enganos. Não se preocupa em definir o que é ser ou não ser conservador, desde que consiga deixar claro o tipo de esquerdismo que não deseja para ninguém.
12. A revolução conservadora, de Aristóteles Drummond
Jornalista e historiador brasileiro, Drummond produziu uma grande obra para o conservadorismo nacional. Em “A revolução conservadora – testemunho e análise”, comenta a evolução do movimento conservador no Brasil comparado com a corrente mundial.
Diferenças do conservadorismo americano para o brasileiro podem ser verificadas, bem como as lacunas no pensamento popular e as dificuldades em se implementar no nosso país as instituições com solidez necessárias para a alta projeção que o país deveria alcançar.
Um livro que, a princípio, pode parecer ultrapassado, mas que contém a ânsia e o sonho de uma sociedade justa e forte, que construa um caráter nacional sólido e íntegro.
Um material interessante para saber separar o joio do trigo, e não confundir politicagem, marketing e outros arquétipos com o real sentido de ser conservador no Brasil.
13. Conservadorismo, um convite à grande tradição, de Roger Scruton
Este autor poderia entrar em diferentes listas de livros, pois é um filósofo renomado especializado em estética. Tendo sido nomeado cavaleiro pela realeza britânica, Scruton persegue a forma ideal para o homem em uma sociedade de objetivos elevados.
Estado de direito, propriedade, o papel do Estado, perspetivas e as belas formas, tanto conceitos sólidos e universais como incisões poéticas de um “nobre cavalheiro”, são temas que podem ser lidos na sua obra.
Em “Conservadorismo, um convite à grande tradição”, o autor navega pela história dessa corrente política, mostrando suas origens e como ela chega aos dias de hoje, ainda muito forte e relevante.
Percebe-se através de Scruton a beleza da conservação das tradições e costumes. Mas será que é só isso?
Livros e bons costumes andam de mãos dadas
Esperamos que nossa relação de livros possa inspirar você na sua busca por um ideal, propósito, ou simplesmente na evolução pessoal.
É importante lembrar que embora o conservadorismo seja muito usado em política e ideias de direita, e ideologicamente “condene” a esquerda, os dois lados da moeda possuem um objetivo comum: melhorar o planeta dos humanos.
Ainda que existam falhas em ambos os projetos, a intenção e a interpretação cabe totalmente a nós. Não adianta mantermos o mesmo estado de conflito, antagonismo e vaidade e colocarmos a culpa em “doutrinas”, como se nossas ações singulares não tivessem autonomia.
Nesse ponto, o Liberalismo é taxativo: a responsabilidade é individual e o livre arbítrio é proporcional à responsabilidade.
Ainda assim, seja qual for o sistema, ele conduz a sociedade a comportamentos que refletem o seu tempo e modo cultural.
E nunca se podem vedar outras problemáticas e lutas, como o direito ao espaço de cada cultura, a liberdade artística, a contestação de hierarquias, a pirâmide social, a estruturação ecológica, os impactos do capitalismo desenfreado.
A história pode ser contada de vieses diferenciados, mas, infelizmente, o que vem sendo levado em conta no mundo é o viés vencedor. É indispensável, dentro de qualquer doutrina, que haja pessoas com um olhar que alcance além da bolha ortodoxa e renove as razões conforme o contexto.
Tudo papo antigo! Mas nunca sai da pauta. Tem muito chão e páginas para serem escritas.
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