Resumo do livro Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector

“Felicidade clandestina”, de Clarice Lispector, é uma coletânea de contos que foi publicada em 1971, alguns anos antes de “A hora da estrela”, obra-prima da autora.

Ao todo, essa obra é composta por 25 contos que a autora escreveu entre os anos de 1950 e 1960. Alguns desses contos foram escritos para o Jornal do Brasil e outros são exclusivos da coletânea.

Assim como a maioria de suas obras, os contos de Clarice Lispector presentes nesse livro falam sobre assuntos e acontecimentos simples do dia a dia e suas reflexões sobre a existência do ser humano.

Mesmo assim, a estrutura dos contos é bastante diferente entre si – tanto a sua forma como o seu conteúdo. Em resultado, as narrativas presentes no livro são muito subjetivas e marcadas pela introspecção.

Além disso, algumas das histórias de “Felicidade clandestina” contam sobre as experiências da própria autora e têm fortes características das autobiografias. Por isso, grande parte dos contos são narrados em primeira pessoa.

A organização dos textos ao longo da obra não segue nenhum tipo de padrão, havendo histórias mais elaboradas e pequenos contos que são quase anedotas. Essa aparente desorganização mostra, na verdade, uma das principais essências da escritora, isto é, o seu fluxo de consciência, em que as palavras parecem sair livremente pela escrita.

Ficou curioso para conhecer mais sobre o livro “Felicidade clandestina”? Então, confira a seguir o resumo e uma breve resenha da obra.

Antes de prosseguir, confira também os 9 melhores livros de Clarice Lispector que publicamos no blog.

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Resumo do livro Felicidade Clandestina e os contos de Clarice Lispector

Como se tratam de várias histórias em um único livro, não teria como fazer um resumo sem considerar os enredos de cada conto separadamente.

Sendo assim, confira em seguida, um resumo de cada um dos 25 contos do livro “Felicidade clandestina”, de Clarice Lispector. Boa leitura!

Felicidade clandestina

O primeiro conto do livro tem o mesmo nome da obra, “Felicidade clandestina”. Ele é uma crônica narrada em primeira pessoa que fala a respeito de uma garota e sua experiência com seu primeiro livro.

A narradora sempre pedia emprestado para sua colega os livros que ela não lia, já que ela era filha do dono de uma livraria. Mas a menina sempre se recusava a emprestar.

Então, um certo dia, a narradora descobriu que sua colega tinha um exemplar do livro “As reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato.

Apesar de prometer emprestar o livro, a menina sempre dava uma desculpa. Então, depois de vários dias de tortura, a mãe da menina descobre o que está acontecendo e, indignada com a situação, a ajuda e empresta o livro para a narradora.

Uma amizade sincera

O conto “Uma amizade sincera”, presente em “Felicidade clandestina”, conta a história de dois amigos inseparáveis.

Eles se conheciam desde a escola e até moraram juntos quando a família de um deles se mudou para São Paulo. Porém, em um certo momento, o assunto entre eles acaba e eles tomam rumos diferentes na vida.

Mesmo assim, eles sabem que sempre continuarão a ser amigos sinceros. Dessa forma, ela destaca a profundidade das relações humanas.

Miopia progressiva

Em “Miopia progressiva” nós conhecemos um menino míope que é considerado inteligente por sua família. Por isso, eles o mimavam. Mas essa situação nem sempre deixava o jovem contente.

Contudo, depois de passar um dia com uma prima solitária que não tinha filhos, ele conheceu um amor que nunca havia experimentado: uma paixão simples e pura. Assim, ele começou a ver o mundo com mais clareza.

Restos do carnaval

“Restos de carnaval” narra um carnaval de uma menina, marcado pela fraqueza física da sua mãe. Seus carnavais eram comemorados com um lança-perfume e um saco de confete em frente ao sobrado onde morava.

Então, no seu carnaval de 8 anos, uma amiga de sua mãe aproveitou os restos da fantasia rosa de sua filha para fazer uma para ela. Porém, na hora da comemoração, a saúde de sua mãe piorou e ela precisou ir até a farmácia para comprar remédios.

Quando toda a situação se acalmou, a menina pode ir até a frente de casa para comemorar.

Nesse momento, um menino de 12 anos passa e cobre seus cabelos com confete, como se jogasse água sobre uma rosa.

O grande passeio

Depois de perder o marido e os filhos, Mocinha virou uma idosa solitária. Então, sem saber bem o porquê, ela passa a morar em um quarto dos fundos em Botafogo, Rio de Janeiro. Um certo dia, a família que a hospedava decidiu mandá-la para casa de um dos seus filhos em Petrópolis.

Porém, depois de esperar por várias horas pelo seu novo anfitrião, ele se recusou a recebê-la e ordenou que ela voltasse de ônibus para o lugar de onde veio.

Mas, antes de voltar para a rodoviária, Mocinha decide dar um passeio. Em algum momento, ela encosta a cabeça no tronco de uma árvore e morre.

Come, meu filho

“Come, meu filho” narra o diálogo de uma mãe e seu filho durante uma refeição.

Basicamente a mãe tenta dar comida ao filho enquanto ele fica puxando assunto para não comer.

Os questionamentos que ele faz são completamente desconexos e têm o único propósito de desviar a atenção de sua mãe e arrumar pretextos para não comer.

Perdoando Deus

Em “Perdoando Deus”, outro conto do livro “Felicidade clandestina”, a narradora conta sobre o seu passeio por Copacabana, onde está muito feliz com a criação de Deus. Porém, quando ela quase pisa em um rato morto, ela se revolta contra Deus, pois não entende por que aquilo tinha que acontecer com ela naquele momento tão especial.

Por isso, ela decide se vingar de Deus escrevendo um relato que estragaria sua reputação. Mas logo ela mesma se contradiz ao afirmar que a sua atitude presume a existência de Deus que ela mesma inventou por ela.

Tentação

“Tentação” conta um breve episódio em que uma menina ruiva e com soluço que observava o movimento em frente a sua casa.

Quando ela menos espera, um pequeno cachorro ruivo passa em sua frente. Os dois se olham por um momento, sem emitir nenhum som. Mesmo assim eles logo compreenderam o desejo um do outro: acabar com sua solidão.

Porém, logo em seguida, a impaciente dona do cachorro o puxa de volta para o seu caminho.

A jovem o acompanhou com os olhos até ele dobrar a esquina, mas ele foi mais forte e não olhou para trás nenhuma vez.

O ovo e a galinha

Em “O ovo e a galinha”, Clarice Lispector faz uma reflexão sobre o significado e a existência do ovo, tentando desvendar o seu ser e sua relação com a galinha – tudo isso depois de observar um ovo sobre a mesa da cozinha.

Por meio de pensamentos aleatórios, a autora desconstrói o objeto, fazendo com que o ovo se torne algo repleto de significados e questionamentos.

Cem anos de perdão

Em “Cem anos de perdão”, a narradora relembra um episódio de sua infância, quando ela e uma amiga invadiram um jardim para roubar uma rosa. Então, depois que seu primeiro plano foi bem-sucedido, ela e sua amiga continuam roubando mais flores e saborosas pitangas escondidas entre as folhas de uma cerca viva.

A legião estrangeira

Durante algum tempo, uma família hindu ocupou o apartamento ao lado da narradora de “A legião estrangeira”. Na maioria das vezes, seus encontros no elevador eram estranhos, pois parecia que o casal preferia manter a distância.

Porém, a filha do casal, Ofélia, de 8 anos, começou a visitar com certa frequência a narradora. Ela ficava sentada na sala, fazendo várias críticas, enquanto a narradora escrevia seus textos.

Certo dia, a narradora comprou um pintinho para seus filhos. Quando descobriu, Ofélia ficou encantada com o bichinho. Porém, depois que a garotinha decide ir embora de repente, a narradora encontra o pintinho morto na cozinha, um acidente causado pelo excesso de amor.

Os obedientes

“Os obedientes” conta a história de um casal comum que vivia a vida conforme imposto pela sociedade. Então, um certo dia a mulher quebra um dente da frente ao morder uma maçã.

Mas, em vez de ir ao dentista, ela se joga pela janela do apartamento.

A repartição dos pães

Durante um almoço com pessoas que a narradora de “A repartição dos pães” mal conhece, ela começa a pensar que perdeu seu sábado. Mas a anfitriã é muito hospitaleira mesmo com pessoas estranhas, oferecendo o melhor serviço de mesa e os melhores pratos.

Uma esperança

“Uma esperança” conta mais um episódio simples do dia a dia, quando um inseto da espécie esperança aparece. Esse animalzinho encanta a narradora e seu filho, despertando a curiosidade da criança e a indignação da mãe ao perceber as diferenças e semelhanças das diferentes esperanças.

Macacos

Em “Macacos”, a narradora fala sobre duas vezes que comprou micos para alegrar seus filhos. O primeiro foi levado embora por alguns meninos que estavam na sua casa. O segundo, por sua vez, logo começou a ficar doente e morreu após a visita ao veterinário.

Os desastres de Sofia

“Os desastres de Sofia” conta a história de uma menina que tenta fazer seu paciente professor explodir e libertá-lo dos “ombros contraídos” por se comportar mal em sala de aula.

Então, quando o professor pede para a turma escrever uma redação sobre um episódio que ele contou, a menina tenta inverter o texto, já que ela havia percebido que ele queria que os alunos tirassem uma moral da história.

Mas, ao retornar para buscar algo na sala durante o intervalo, o professor a elogia por seu texto. Por isso, ela sai correndo da sala sem nem mesmo pegar seu caderno de volta.

A criada

O conto “A criada” conta a história de uma empregada de 19 anos, chamada Eremita.

Apesar de às vezes responder de modo grosseiro, ela é introvertida e realiza seu trabalho de forma mecânica. Além disso, ela tem uma tristeza profunda e não se preocupa com sua juventude ou com sua beleza. Para ela, as coisas estavam boas dessa maneira.

A mensagem

“A mensagem” fala sobre um casal que se aproximou na adolescência por causa de um sentimento compartilhado de angústia. Porém, com o tempo, eles não encontraram mais nada em comum um com o outro, o que tornou a relação incômoda para os dois.

Então, um dia eles se veem em frente uma casa velha que os assombrou. Repentinamente, os dois se tornam adultos e correm para pegar o ônibus.

Menino a bico de pena

No conto “Menino a bico de pena”, presente em “Felicidade clandestina”, uma mãe observa seu filho que acabou de ter seus primeiros dentes.

Quando ele acorda e se sente só, a mãe entra no quarto com uma fralda para trocá-lo. Então, a criança escuta o barulho de um carro e diz: “fonfom”.

Por isso, a mãe fica extremamente feliz.

Uma história de tanto amor

Em “Uma história de tanto amor”, nós nos deparamos com uma menina apaixonada por galinhas. Ela tinha duas, Pedrina e Petronilha, e cuidava delas com carinho e dedicação.

Porém, um dia, quando ela não estava em casa, seus parentes comeram a Petronilha. Um tempo depois, Pedrina morreu de velhice.

Quando já era mais velha, a menina ganhou outra galinha. Mas, quando ela morre, a jovem já entendia qual era o destino de todas as galinhas.

Por isso, ela a come sem culpa.

As águas do mundo

Em “As águas do mundo”, o narrador conta com riqueza de detalhes a cena e os sentimentos de uma mulher que está se preparando para um mergulho no mar, mostrando como a mulher e o mar são as coisas mais inatingíveis do mundo. Por fim, depois do mergulho, a mulher retorna para a areia.

A quinta história

No conto “A quinta história”, Clarice Lispector mostra várias formas diferentes de contar a mesma história a partir de um ponto central. Após aprender uma receita de veneno para baratas, a mulher o aplica para eliminar os insetos que a incomodam.

A partir desse núcleo comum, as histórias vão ficando cada vez mais amplas, detalhando as sensações da mulher. No final, ela presente que novas baratas aparecem.

Encarnação involuntária

Em “Encarnação involuntária”, a narradora tem o hábito de observar e “encarnar” em pessoas para imitar seu comportamento e experimentar suas sensações e ponto de vista. Por exemplo, durante um voo, ela adota os gestos modestos e a vergonha de uma comissária. Em outra ocasião, ela tenta “encarnar” uma prostituta, fixando seu olhar nos homens. Mas, na verdade, ela estava mais interessada na leitura do jornal.

Duas histórias a meu modo

No conto “Duas histórias a meu modo”, de “Felicidade clandestina”, Clarice relembra duas histórias que ela escrevia para se divertir por meio de seu escritor francês imaginário Marcel Aymé.

Na primeira história, a autora conta sobre o drama de um dono de um vinhedo que não gosta de vinhos. Porém, com o tempo, ele aprende a gostar da bebida.

Na segunda, ela fala de um funcionário estadual de Paris que ama vinhos, mas que não tem dinheiro para sustentar seus desejos. Por isso, ele enlouquece de vontade, começa a beber muito e precisa ser internado.

O primeiro beijo

Por último, “O primeiro beijo” conta o episódio em que uma moça com ciúmes pergunta ao seu namorado como havia sido seu primeiro beijo. Ele conta que, quando era criança, durante uma excursão, ele foi beber água em uma fonte, onde a água saia da boca da estátua. Então, ele se aproximou dela e a beijou. Mas, sem entender bem o que tinha acontecido, ele sentiu uma estranha perturbação.

Gostou da leitura?

Então, o que você achou desse breve resumo dos contos presentes em Felicidade Clandestina?

Em suma, tratam-se de histórias bastante rápidas mas que tem um poder de capturar o leitor, que vai querer ler uma atrás da outra.

Se você se interessou por este livro de Clarice Lispector, aproveite para fazer a leitura e se encantar com as palavras da autora.